quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Sarau Modernista



Equipes 2 – temáticas terra natal e infância
A terra natal
Confidência do itabirano (Sentimento do mundo)
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Pó isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que hora te ofereço:
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval:
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visita:
este orgulho, esta cabeça baixa...

tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário publico.
Itabira é apenas uma fotografia na parede
Mas como dói!

Cidadezinha qualquer
Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.


A biografia lírica e real de Drummond reside em Itabira, cidade que em vida adulta nunca mais voltou, mas cuja lembrança sentimental sempre reservou para si.Tais lembranças são notadas através da leitura e analise dos poemas acima.

Em “Confidência do itabirano” Drummond confessa-se um poeta triste e orgulhoso:”Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste,orgulhoso: de ferro”, habituado ao sofrimento, com lembranças de sofrimento, sofrimento que ironicamente diz que o diverte: “o hábito de sofrer que tanto me diverte”..percebe-se que ao usar as palavras “orgulhoso e triste”, há nitidamente uma experiência pessoal e também problemática através do uso de antíteses e ironia
Na última estrofe, os versos "Tive ouro, tive gado, tive fazendas. / Hoje sou funcionário público" são o testemunho dos efeitos da decadência econômica da família, historicamente representada pela passagem do feudalismo / capitalismo anônimo o que provocou mudança no estado emocional do poeta.
Em "Por isso sou triste, orgulhoso representa algo ilógico, mas que se justifica pelo entrelaçar-se do passado no presente. A tristeza do eu lírico vem menos de um certo saudosismo telúrico do que da dureza férrea do chão, transmitindo-se assim ao caráter das pessoas; o orgulho, dessa mesma dureza, da riqueza e da tradição da terra. Se ele é "de ferro", o é por trazer em seu intimo toda a atmosfera da cidade, sendo, portanto, indiferente ao que se derrama sobre o outro: "Tudo é possível / só eu impossível".
Enfim, No decorrer da Leitura do poema Confidência do itabirano, Drummond explicitamente expõe a saudade de sua terra natal, a cidade de Itabira em Minas Gerais,um auto-retrato. Na verdade, depois de anos longe de Itabira o que restou foram algumas lembranças e uma fotografia na parede pela qual se percebe a comprovação de um passado para sempre dissolvido em termos de concretude das coisas; só recuperável pela memória, pela via da poesia O poema aparentemente terno é, em verdade, cruel. Há também uma profunda discussão sobre a temporalidade: o passado é vivo na memória do poeta.  
Enquanto em "Confidência do itabirano" há expressivas antíteses, de ironia amarga e sutil (pó exemplo, hábito de sofrer / que tanto me diverte / doce herança itabirana), em "Cidadezinha qualquer" os versos no infinitivo, as repetições e uma prosopopéia (Devagar... as janelas olham) expressam o tédio à monotonia da vida do interior, que no entanto deixa tanta saudade, como mostram os versos finais, de "Confidência do itabirano".

Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras.
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
 
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala – nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
 
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
 
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
 
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.


 
O título, em primeiro lugar, ressalta o tema que será tratado, a infância, a meninice, o tempo em que o eu lírico morava no campo e via o pai sair para campear, a mãe costurar e o irmão menor dormindo no berço; o tempo em que lia sob as mangueiras sentindo o cheiro do café preparado pela empregada, a preta velha. Em "Infância", Drummond, não se preocupa com o rigor estético. Todo o poema se dá em versos livres, carregado de repetições de pronome.

Na primeira estrofe, há o perfil da família nuclear, representada pela figura do pai, da mãe e do irmão menor. Observe-se que, ao pai estão subentendidas as tarefas de provimento da família aliada à não convivência próxima com os filhos e, por via de conseqüência, há o domínio o espaço externo. Em outras palavras, a figura paterna é vista de dentro para fora: da casa para o mato, e a partir do filho para o pai. Assim, torna-se evidente uma distância espacial e afetiva
   
No segundo verso, surge a figura materna: Minha mãe ficava sentada cosendo. Ao contrário do pai, que tinha o mundo à sua volta e se perdia no mato sem fim da fazenda, a mãe se revela no seio do lar como condutora das atividades domésticas: cose, cuida do menino pequeno.
 
Ao contrário do pai, também, atribui-se à figura materna uma passividade calculada, ela se limita a ficar sentada cosendo, a tocar o mosquito do berço e a chamar a atenção do eu lírico para que não fizesse barulho e acordasse o menino.

 É fundamental, portanto, entender que o eu lírico está rememorando o passado, reconstruindo a cena da vida em família, dos dias eternos que vivia em companhia dos livros tão-somente, sem repartir com ninguém o sentimento da solidão, da necessidade afetiva. Era um observador nato, que enxergava os acontecimentos sem entendê-los e, no entanto, guardava-os bem dentro do peito, com riqueza de detalhes, para que, mais tarde, na maturidade, tivesse-os em torno de si.

Alunos;Gebaldo,Adriana,Erlon,Matias

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